por Sílvio Anaz
Os primeiros acordes de “Good Times, Bad Times” no palco do O2 Arena, em Londres, em dezembro de 2007, foram muito mais do que a abertura do histórico show de retorno do Led Zeppelin. Eles simbolizaram o poder do heavy metal. Para assistir à apresentação da banda, considerada uma das inventoras do gênero, cerca de um milhão de pessoas se candidataram aos 18 mil ingressos disponíveis. Esse tipo de consagração e grandiloqüência tem sido uma constante desde o início da trajetória desta versão peso pesada do rock.
Reprodução O retorno do Led Zeppelin em dezembro de 2007 foi um momento lendário para o rock e ganhou destaque na mídia especializada, como na britânica Mojo Magazine |
Quando surgiu, o heavy metal não demorou muito para fazer sucesso. As primeiras bandas e trabalhos apareceram no final dos anos 60 com os lançamentos dos discos de estréia de Deep Purple, Led Zeppelin e Black Sabbath. A admiração dos jovens pelo novo gênero foi imediata. A sonoridade pesada, crua e básica das canções contrastava com as sofisticações do rock progressivo e as experimentações do rock psicodélico. Além disso, as letras trouxeram assuntos mais próximos à realidade dos adolescentes das classes baixas e fizeram incursões em temas polêmicos e atraentes à rebeldia juvenil, como satanismo e violência. A identificação jovem com as canções resultou em boas vendagens logo nos primeiros trabalhos das bandas, o que levou o segundo disco do Led Zeppelin lançado em 1969 ao primeiro lugar nas paradas dos Estados Unidos e do Reino Unido.
Entre 1968 e 1970, os primeiros discos considerados como de heavy metal levaram ao extremo uma tendência que estava presente no rock britânico desde o começo da década de 60. A influência do blues norte-americano, “descoberto” pelos ingleses, era nítida nos trabalhos de bandas como The Rolling Stones e do “power trio” The Cream. É a partir dessa mesma fonte, do encontro do blues com um rock pesado, que nasce o heavy metal. Só que a essa fórmula básica, acrescentou-se um peso e uma energia sonora nunca antes vistas.
Reprodução O disco "Paranoid" (1970), do Black Sabbath, traz clássicos do heavy metal como "Iron Man", "Paranoid" e "War Pigs" |
Mas esse retorno ao básico não durou muito. O virtuosismo dos músicos, a força musical das canções e o sucesso imediato levaram o heavy metal para um outro caminho. Ao longo dos anos 70, os shows tornaram-se grandiosos e caros, as atitudes e o comportamento das bandas cheios de excessos e a música ficou cada vez mais sofisticada. Essas características fizeram o gênero ser considerado tão pretensioso e excessivo quanto o rock progressivo por uma parte da juventude, que reagiu a essa sofisticação do rock com o movimento punk em meados da década de 70.
O heavy metal nasceu caracterizado musicalmente pelo som de pesados riffs(padrão rítmico ou melódico curto repetido muitas vezes) de guitarras, o uso intenso de “power chords”, os longos solos de baterias e guitarras, um andamento acelerado da música e vocais marcantes, que vão do extremo do agudo ao gutural. As letras das canções abordaram os mais diferentes assuntos de interesse dos adolescentes no final dos anos 60, mas destacaram-se aqueles ligados a uma visão de mundo pessimista das classes trabalhadoras, além de questões místicas e românticas. A forma de contestação e rebeldia expressa nas canções do heavy metal, em seus primeiros anos, era muito mais dura, niilista, agressiva, direta e crua do que de outros estilos do rock daquele momento.
A inspiração para nomear um gênero específico do rock como “heavy metal” já foi atribuída ao escritor beatnik William Burroughs, que usou o termo em seus romances para caracterizar situações e personagens. Outros acreditam que o termo se consolidou como referência musical ao ser usado no final dos anos 60 por Lester Bangs em suas críticas musicais em revistas como a Creem. Muitos pensam que o termo vem da letra da canção “Born To Be Wild”, um clássico do rock imortalizado pelo grupo norte-americano Steppenwolf, lançada também em 1968. Mas, na verdade, o termo heavy metal vinha sendo usado desde o século 18. Militarmente ele referia-se a armas grandes, pesadas e poderosas, como os canhões e suas balas e, mais tarde, os tanques de guerra. Já socialmente era um termo usado para referir-se a homens com grande habilidade ou força mental ou corporal. No século 20, o termo foi usado por cientistas para definir metais de alta densidade. Desde sua origem, as acepções de energia, força e poder sempre estiveram associadas a heavy metal, o que o tornou um termo bem adequado ao novo estilo musical que surgia.
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