por Sílvio Anaz
Apesar de não ter apoio nos lançamentos dos discos e quase não tocar nas rádios, o heavy metal virou rapidamente um dos gêneros mais populares do rock. As bandas pioneiras, como Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabbath, construíram essa popularidade e o sucesso do estilo em longas turnês e no impacto das performances ao vivo. Logo de cara, na primeira metade dos anos 70, o heavy metal mostrou que era uma força musical que agradava principalmente aos jovens brancos, do sexo masculino e das classes operárias. Mas essa rápida ascensão do gênero sofreu na metade da década o impacto da revolução punk e o final dos anos 70 foi de decadência para a popularidade do heavy metal, em função do esgotamento de uma estética que se repetia desde a virada dos anos 60 para os 70 e também do fim do Led Zeppelin.
Reprodução O quarto álbum do Led Zeppelin (1971) é uma das obras-primas do heavy metal "clássico"; ele foi considerado um dos melhores discos de todos os tempos, em pesquisa realizada pela revista Rolling Stone |
Com a chegada dos anos 80 aconteceu a renovação e o renascimento do gênero. Na década em que o rock e sua versão mais adocicada, a canção pop, tiveram uma fragmentação de estilos inédita, o heavy metal também gerou uma série de filhotes. Entre eles uma versão mais amena musicalmente, mas com um forte apelo visual. Esse “soft” metal teve como expoentes os grupos Bon Jovi, Kiss, Poison, Van Halen e Def Leppard. Além de ser mais palatável para uma boa parte dos jovens, inclusive para o público feminino, essa nova versão do heavy metal ganhou popularidade graças a era dos videoclipes que se instalou com a estréia da Music Television (MTV). Mas, os anos 80 não viveram apenas do “soft” metal. O estilo clássico do metal, representado por bandas novas, que surgiram no final dos anos 70 como AC/DC e Judas Priest, ou pelas pioneiras que estavam ainda na ativa como Black Sabbath, manteve um público fiel. Esse movimento fez o heavy metal chegar ao final dos anos 80 como o mais bem sucedido gênero do rock. Nos Estados Unidos, as vendagens dos grupos de metal corresponderam a 40% do total de discos comercializado no final daquela década.
Reprodução Em 1979, ainda com Bon Scott nos vocais, o AC/DC se consagrava no cenário do metal com o álbum "Highway to Hell" |
Apesar do sucesso comercial, ao longo dos anos 80, surgem novas versões do metal que se opõem radicalmente ao estilo musical light e cosmético do “soft” metal. Uma das principais delas é o “thrash metal”, caracterizado pelo seu ritmo acelerado e pelos riffs de guitarras mais limpos. Bastante influenciado pela sonoridade e pela atitude do punk e pelo “speed” metal, de onde tirou a velocidade de seu padrão rítmico, o estilo “thrash” é um dos mais agressivos do metal. Bandas como Sepultura, Motorhead,Megadeth, Anthrax eMetallica foram alguns dos expoentes do estilo. O "death metal" surge na mesma época como uma versão mais mórbida do thrash, com letras principalmente sobre violência, morte, lutas épicas e satanismo.
Desde o final dos anos 60, os fãs do metal – os metaleiros ou headbangers – constituem uma das mais duradouras e marcantes subculturas jovens. Uma turma que começou formada por garotos brancos das classes mais baixas, moradores de centros industriais na Inglaterra e nos Estados Unidos, ela ganhou a partir dos anos 80 a companhia dos adolescentes da classe média, inclusive o público feminino. Extremamente leais, eles fizeram de bandas, que não tiveram o apoio de gravadoras ou das rádios, sucessos comerciais que as levaram aos primeiros lugares em vendagens de discos. Segundo pesquisa da Billboard nos anos 80, os fãs de heavy metal eram os que mais compareciam às apresentações ao vivo de seus ídolos, quando comparados com admiradores de outros gêneros. No livro “Running With the Devil”, Robert Walser identificou que quase todos os fãs de metal entrevistados por ele sabiam as letras das canções do gênero, por mais incompreensíveis que elas parecessem. Ele identificou também que as características que mais atraem o jovem para o heavy metal são a intensidade e a energia da música, os impressionantes solos de guitarra e as letras das canções que falam da vida real.
Os anos 80 foram o berço também do “funk metal”, uma variação que destaca, além da guitarra, a sonoridade grave do baixo, a partir da fusão da música heavy com o suingue do funk. Grupos como Faith No More, Suicidal Tendencies e Red Hot Chili Peppers são exemplos desse estilo.
Reprodução O estilo "industrial metal" ganhou a capa da edição de setembro de 1994 da revista Rolling Stone, com Trent Reznor e seu Nine Inch Nails |
A fragmentação do heavy metal continuou a avançar nas décadas de 90 e no novo milênio como uma forma de renovação e atualização do gênero. Uma delas é o “industrial metal” que a partir do uso de samplings traz a influência da música eletrônica para o gênero. Canções do Ministry e do Nine Inch Nails são bons exemplos desse rock pesado industrial com influências eletrônicas.
Apesar de não dominar o mercado de música jovem como nos anos 80 – em 2007, o metal foi o quinto gênero em vendagens nos Estados Unidos, com 8,59% do mercado [fonte: Nielsen Media Research] –, ele tem ao longo das décadas mantido uma base de fiéis fãs. Mas ele já não é mais um gênero homogêneo. Desde os anos 70, o heavy metal tornou-se tão amplo, bem-sucedido comercialmente e com tantas ramificações que ele ganhou a denominação genérica de "metal" para poder emprestar seu nome a todos os filhotes, como thrash metal, black metal, power metal, speed metal, metal sinfônico e death metal, entre outros.
Em sua trajetória, o heavy metal tornou-se um dos mais importantes gêneros da canção jovem. A ponto de no encerramento das Olimpíadas de Pequim, em 2008, um dos momentos de destaque da festa ter sido a apresentação ao vivo de um de seus clássicos: “Whole Lotta Love”, com Jimmy Page, do Led Zeppelin. Algo bem emblemático de um gênero musical que nasceu transpirando energia e poder.
Desde o início, ele tem sido polêmico e exagerado. As bandas do heavy metal inventaram as turnês com concertos em estádios para dezenas de milhares de fãs, inovaram com os palcos de cenários imponentes e épicos, ostentaram na aquisição de aviões para transportá-las e fizeram festas escandalosas nos hotéis durante as turnês. Já as letras das canções têm estado na mira de críticos que classificam muitas como narcisistas, sexistas, agressivas e preconceituosas. Organizações conservadoras consideram que algumas canções, como “Suicide Solution” de Ozzy Osbourne, incentivam o suicídio de jovens ouvintes. Nos anos 70, bandas como Led Zeppelin e Black Sabbath foram acusadas de envolvimento com Satanismo e magia negra. No novo milênio, as atitudes e as músicas de Marilyn Manson e seu "metal industrial" têm causado escândalos e processos de censura. Com estratégia de marketing ou não, o heavy metal e suas ramificações têm mantido o espírito rebelde e provocativo do rock original.
Nenhum comentário:
Postar um comentário